Demais

Você disse que eu penso demais como se isso ajudasse a minha mente a saber a hora de parar. Talvez ela até saiba, mas a título de esclarecimento acho importante dizer aqui que gosto dela assim. É quando penso demais que preciso colocar tudo o que sinto no papel e no mundo real meus sentimentos acabam se mostrando bem menores e insignificantes, o que, ironicamente, é a única coisa que faz minha mente parar.

Naquela hora, quis te dizer que pensar demais faz parte de quem eu sou e se você não ama essa parte, logo não me ama. Radical, eu sei.

Mas eu queria, na verdade, poder extinguir o uso do advérbio demais. Cansei de ser definida por ele. Por falar demais, ser intensa demais, ser otimista demais, ser boazinha demais. Tudo o que esse advérbio traz, nas entrelinhas, é o aviso que eu extrapolo. Tenho extrapolado desde que nasci e, aparentemente, não aprendi ainda meus limites.

Não quero saber dos meus limites, ou melhor, dos limites que querem saber para mim. Quero sim amar demais, sonhar demais, sentir demais a ponto de transbordar e ter o que dividir com o mundo. Quero pensar demais a ponto de escrever páginas e páginas e, assim, terminar o maldito livro que sempre digo que vou finalizar. Quero falar demais, tirando de mim tudo que não serve mais. Quero ser intensa, otimista, boazinha, sincera, raivosa, cansada e, ao fim, feliz porque me permiti demais ser verdadeira com meus sentimentos.

Mas não disse nada disso. Limitei, como bem fui ensinada, minha indignação a uma concordância falsa e mudei de assunto. Às vezes me calo demais também.