Terra arrasada

Chegou de manso.

Começou com um pensamento qualquer que não se dá muita atenção. Em poucos instantes, forçou meus dedos a pararem de digitar e estacionar no queixo em uma posição típica de quando meus pensamentos se tornam uma obsessão.

Meus órgãos internos começaram a mudar de forma. No lugar do coração, uma brasa. No lugar do estômago, um novelo embaraçado. De repente, não era mais um pensamento, era uma realidade.

Sinto aquele prazer incômodo de rever alguém conhecido que não se tem muita intimidade. Meu corpo inteiro se acende e sinaliza “corre”. Mas do quê? Para onde? Por quê? Minha cabeça, em contraponto, estaciona naquela obsessão. Estagnada, não consigo pensar em mais nada.

Agora, preciso alimentar o monstro que estou criando. Dou comida, água, carinho e atenção até que ele se torne maior do que eu e, quando dou por mim, estou chorando e minha respiração me falta.

Um, dois, três e exala. Aos poucos, minha temperatura corporal se estabiliza e consigo sentir meu coração reencontrar seu compasso. Meu estômago ocupa o lugar do vazio que sentia antes.

E, tão vagarosamente como chegou, ela vai embora, deixando minhas lágrimas ainda por secar.